OAB debaterá a escravidão negra e seus reflexos no Brasil atual

quinta-feira, 24 de setembro de 2015 às 05:13

Brasília – A escravidão negra no Brasil e os princípios e objetivos da Comissão da Verdade da Escravidão Negra no Brasil da OAB Nacional, serão debatidos na próxima quarta-feira (30), em audiência pública realizada pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados.

A OAB Nacional será representada pelo presidente da Comissão Nacional da Verdade da Escravidão Negra no Brasil, Humberto Adami Santos Júnior. “A comissão se dedica a pesquisar a memória da escravidão negra para identificar os reflexos atuais de racismo em nossa sociedade”, explica o presidente.

Conforme Adami, “uma parcela da população brasileira não compreende a necessidade de ações afirmativas contra o racismo. O verdadeiro holocausto da escravidão no Brasil foi apagado da memória coletiva. É preciso saber o quanto esse período influencia no cenário atual”.

A afirmação de Adami pode ser confirmada na publicação O Mapa da Violência/2015, do sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, que fez um levantamento apontando que para cada grupo de 100 mil habitantes, a taxa de vítimas de homicídios da cor branca ficou em 11,8 óbitos, enquanto a de negros registrou 28,5 – uma diferença de 142%.

A proposta da comissão é realizar um resgate de casos emblemáticos de escravidão e violência contra os negros ocorridos no Brasil. “Cada município brasileiro tem uma história como essas para ser contada. Hoje o cotidiano retrata o histórico de violência sofrido no passado de forma perversa, negando-se a admitir que o racismo ainda exista e mantendo o passado no esquecimento”, destacou Adami.

A comissão tem promovido uma série de convênios com universidades brasileiras para que um levantamento histórico seja realizado, onde se conte ou relembre atos de crueldade cometidos historicamente, servindo de base para o relatório que será elaborado propondo ações efetivas do governo como compensação, possibilitando maior acesso a programas de acesso a educação superior, por exemplo.

Dentre os registros de violência, Adami cita o do Quilombo Campo Grande, onde uma comunidade de negros localizada no interior de Minas gerais foi dizimada por um bandeirante no século XVIII. Como prova do massacre o assassino apresentou 3.900 pares de orelhas, recebendo 83 quilos de ouro como pagamento. O fato, historicamente comprovado, foi retratado no documentário Quilombo do Campo Grande aos Martins.

O presidente da comissão cita outros dois documentários que relembram os horrores da escravidão negra no Brasil. A Escravidão em Nova Friburgo, que trata da construção da cidade carioca chamada de Suíça Brasileira, e 1912 – Quebra do Xangô, que aborda o ataque promovido contra casas de culto afro-brasileiras, em Maceió.

O evento, que  acontece a partir das 14h, no Plenário 09, Anexo II da Câmara dos Deputados foi proposto pela deputada Rosangela Gomes (PRB-RJ). Além de Adami, participam ainda a desembargadora Ivone Caetano, membro da Comissão Nacional da Verdade da Escravidão Negra no Brasil, o Presidente da Confederação Nacional Quilombola, José Antônio Ventura, o secretário Municipal de Promoção da Igualdade Racial de São Paulo, Maurício Pestana e o secretário de assuntos legislativo do Ministério da Justiça, Gabriel de Carvalho Sampaio, dentre outros.

Confira os documentários citados por Humberto Adami:

Quilombo do Campo Grande aos Martins 

A Escravidão em Nova Friburgo

1912 – Quebra do Xangô