Folha de S.Paulo destaca pedido da OAB pela criação de força-tarefa no STF
Brasília - Em
reportagem publicada na edição desta segunda-feira (24), o jornal Folha de
S.Paulo destacou o pioneirismo da OAB Nacional na requisição ao STF de criação
de uma força-tarefa para que a análise urgente dos inquéritos que resultaram da
delação da Odebrecht.
Conforme
a publicação, a Ajufe faz coro à Ordem dos Advogados do Brasil, que sugeriu à
presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, o reforço de servidores e juizes no
gabinete do ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato.
Confira abaixo a íntegra da reportagem
de Frederico Vasconcelos:
Entidades
defendem juizes auxiliares para força-tarefa no STF
A
força-tarefa para acelerar os trabalhos da Lava Jato no STF (Supremo Tribunal
Federal) terá um desafio bem maior do que o enfrentado pela corte na tramitação
da ação penal do mensalão.
Magistrados
especializados em crimes financeiros e de lavagem de dinheiro dizem que haverá
um volume maior de documentos a serem garimpados e analisados. Os inquéritos
terão que ser bem fundamentados para virar processo, pois a delação, por si só,
não ê prova.
Eles
entendem que a força-tarefa ê essencial, mas não seria suficiente.
"Muitas
investigações têm sido alcançadas pela prescrição na fase de inquérito na
Polícia Federal, por isso precisamos urgentemente de uma força-tarefa de
delegados, escrivães, agentes e peritos criminais", diz Roberto Veloso,
presidente da Associação dos Juizes Federais do Brasil (Ajufe).
Veloso
considera necessária uma articulação coordenada entre a Polícia Federal e o
Ministério Público, nos mesmos moldes da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba.
A
Ajufe faz coro à Ordem dos Advogados do Brasil, que sugeriu à presidente do
STF, ministra Cármen Lúcia, o reforço de servidores e juizes no gabinete do
ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato.
O
trabalho de Fachin foi ampliado com os pedidos do procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, a partir das delações de executivos da Odebrecht. Ao
contrário do juiz Sérgio Moro, em Curitiba, o relator no STF continua recebendo
outros processos.
Em
2007, o STF viveu experiência semelhante quando a corte recebeu a denúncia do
mensalão e a então presidente Ellen Gracie incluiu no regimento interno a
figura do juiz auxiliar.
Na
ocasião, havia dúvidas se esses magistrados atuariam como juizes ou como assessores,
o que poderia caracterizar desvio de função.
Gracie
já havia convocado a juíza federal Salise Sancho-tene, do Rio Grande do Sul,
para auxiliá-la na presidência. Antes, o presidente do STF Nelson Jobim
convocara o juiz federal Flávio Dino, atual governador do Maranhão, para
assessorá-lo no Conselho Nacional de Justiça.
Em
2012, quando o STF condenou os réus do mensalão, um discreto grupo de juizes
ajudava ministros a analisar as provas, a pesquisar e a preparar minutas de
votos.
Na
ocasião, o Supremo contava com 14 juizes auxiliares. Os ministros evitavam
confirmar esse apoio. Atribui-se o silêncio ao receio de que advogados
assediassem os juizes, que, por sua vez, evitavam exposição para não
constranger os ministros.
Sérgio
Moro auxiliou a ministra Rosa Weber no mensalão. Sua convocação foi vista pelos
colegas de primeiro grau como uma oportunidade para "oxigenar" o
tribunal em matéria penal. Pouco antes, aposentara-se o ministro Sepúlveda
Pertence, único especializado na área criminal.
O
juiz federal João Carlos Costa Mayer Soares, de Minas, ajudou Ayres Britto. O
juiz Leonardo de Farias Duarte, do Pará, ajudou Joaquim Barbosa. Sanchotene
cuidou de outros processos criminais no gabinete de Barbosa.
Gilmar
Mendes foi auxiliado pelo juiz Danilo Pereira Júnior, do Paraná. Dias Toffoli,
pelo juiz estadual paulista Carlos Vieira von Adamek (que o acompanhou no TSE).
E Cármen Lúcia, pelo juiz Júlio Ferreira de Andrade, de uma Vara Criminal em MG.
Dez
anos depois da regulamentação, ainda há controvérsias sobre a convocação de
juizes auxiliares. Celso de Mello e Marco Aurélio não admitem essa ajuda.
"Acho que o estudo [que embasará a decisão] tem que ser meu. É um ato
pessoal", disse Mello, em 2012. "Não tem sentido convocar um juiz
para atuar como assessor de ministro."
Marco
Aurélio considera "indelegável" o ofício de julgar. Ele continuará
sem juiz auxiliar, mesmo se vier a receber processos da Lava Jato.
"Nós
temos uma estrutura muito boa. São nove assessores em cada gabinete. A
convocação descobre um santo para cobrir outro. O jurisdicionado sai
perdendo", diz.
Segundo
alguns magistrados, essa assessoria supre a falta de vocação do STF para
preparar as ações penais originárias (cujo julgamento ê iniciado no Supremo).