OAB saúda Unesco por reconhecimento do Cais do Valongo como Patrimônio Cultural Mundial

terça-feira, 11 de julho de 2017 às 02:26

Brasília - A OAB Nacional, por meio de sua Comissão Nacional da Verdade da Escravidão Negra no Brasil, saúda a escolha do Cais do Valongo, no Rio de Janeiro, como Patrimônio Mundial Cultural. O anúncio foi feito neste domingo (10) pela Unesco, braço da Organização das Nações Unidas para educação, ciência e cultura. O sítio arqueológico, descoberto em 2011, foi entrada para cerca de 1 milhão de africanos escravizados.

“O Brasil ainda é um país sem memória. Recebemos mais de 2 milhões de escravos e até hoje não construímos uma memória coletiva sobre este período tão traumático e perverso de nossa história. A OAB busca sempre apoiar ações de reparação à população negra e quilombola, para que qualquer coisa semelhante jamais volte a ocorrer”, afirma o presidente nacional da Ordem, Claudio Lamachia.

O presidente da Comissão Nacional da Verdade da Escravidão Negra no Brasil, Humberto Adami Jr., elogiou o reconhecimento do Cais do Valongo como “sítio de memória afetiva”, tais como a cidade de Hiroshima, no Japão, e o Campo de Auschwitz, um dos palcos do genocídio judeu na Europa. “O reconhecimento do Cais do Valongo pela Unesco comprova a decisão acertada da OAB de de pesquisar a verdade da escravidão no Brasil”, afirmou, lembrando ainda o trabalho desenvolvido pelas 15 Comissões estaduais e também de algumas subseções.

“Precisamos ir ao encontro do passado e fazer uma pesquisa profunda. Este reconhecimento veio apenas para o município do Rio de Janeiro, mas há histórias em milhares de outros. Em cada um, não é difícil de se imaginar, há uma história a ser descoberta sobre a escravidão, com personagens, lendas, heróis, locais e prédios. Todos fazem parte da história do Brasil”, explica Adami.

O presidente da Comissão também chama atenção para o fato de que a escolha do Cais do Valongo como Patrimônio Mundial Cultural também reconhece o Cemitério dos Pretos Novos e o Quilombo Pedra do Sal, apontando para a necessidade de valorização e reconhecimento desta cultura. Segundo Adami, há 5.000 comunidades já reconhecidas no Brasil, mas apenas 200 tituladas. Em agosto o STF retoma o julgamento da ADI n. 3239, que trata da questão de demarcação de terras quilombolas --o título concedido pela Unesco, de acordo com Adami, pode ajudar.

Cais do Valongo

O Cais do Valongo foi descoberto em 2011, durante escavações para construção do Porto Maravilha, no Rio de Janeiro. É considerado uma das mais importantes provas da diáspora africana no século 17 --estima-se que mais de 1 milhão de escravos desembarcaram no local entre os anos 1811 e 1843. O local havia sido escondido sob diversas obras realizadas no local desde então. Agora será preservado, inclusive com a previsão de abertura de um museu para contar sua história.

Em um comunicado justificando a escolha do Cais do Valongo como Patrimônio Mundial Cultural, a Unesco afirmou que o Valongo remete à tragédia sobre a qual o Brasil se construiu. “Esse reconhecimento do Comitê do Patrimônio Mundial faz justiça aos milhões de africanos arrancados das suas terras para serem reduzidos à escravidão e obrigados a construir outro continente que não o seu. Ele inscreve na consciência da Humanidade um dos seus maiores sítios de memória. O Cais do Valongo representa, de fato, uma das matrizes do Brasil e remete à tragédia sobre a qual esse grande país se construiu. Esse reconhecimento sem dúvida vai contribuir para o diálogo e para reconstrução”, afirma o comunicado.

Com informações de O Globo