Mulher advogada é o foco da discussão sobre desafios no exercício da advocacia
A OAB Nacional e a Escola Superior da Advocacia (ESA Nacional) realizaram, na noite desta terça-feira (23), o primeiro dia do evento online “Desafios da Advogada ontem e hoje”, com o objetivo de debater os obstáculos impostos à advocacia feminina no passado e também no contexto atual da profissão. A proposta do evento é disseminar conhecimentos sobre a igualdade de gênero com foco na advocacia. Assim como o segundo dia será, esse primeiro dia de palestras foi transmitido ao vivo pelo canal oficial da ESA Nacional no YouTube.
A conselheira federal Luciana Nepomuceno (MG) falou na abertura do evento, que teve em seguida duas mesas temáticas. A vice-presidente da OAB-DF, Cristiane Damasceno, coordenadora da ESA Nacional para temática da mulher advogada, a secretária-geral da OAB-PE, Ana Luiza Mousinho, coordenadora da ESA Nacional para temática da igualdade de gênero, ambas coordenadoras do evento, também compuseram o painel de abertura, bem como a advogada criminalista e membra do conselho consultivo da ESA Nacional, Thaís Bandeira, e a empreendedora social Ana Fontes.
"Enfrentei muitos desafios que, tenho certeza, são enfrentados por muitas de vocês. Conciliar a maternidade com os cuidados com a casa, com a família e o trabalho como autônoma. Conduzo hoje um escritório e digo honrosamente que tenho uma equipe exclusivamente feminina porque procuro dar espaço, voz e vez para as mulheres. Exatamente porque sei o que passei e sei o que muitas mulheres advogadas passam. Tudo isso dentro de uma sociedade estruturalmente machista e patriarcal que ainda nos julga pela medida de nossa saia, pelo tamanho de nosso decote, pelo tipo de batom ou pelos brincos que usamos, quando o único fator que deveria ser importante e relevante não é lembrado: a nossa capacidade", disse Nepomuceno.
Empreendedorismo e Empreendedorismo Jurídico
As primeiras palestras da noite tiveram como tema, “Empreendedorismo e Empreendedorismo Jurídico”, com a moderação de Thais Bandeira e exposições de Ana Lúcia Fontes e Claudia Alves Lopes Bernardino. Ana Lúcia, fundadora da Rede Mulher Empreendedora e especialista em empreendedorismo feminino, falou sobre a trajetórias pessoais que a levaram a fundar sua organização e compartilhou experiências da rede para o desenvolvimento de trabalhos em diversos ramos de apoio à mulheres empreendedoras.
"A Rede recebeu todos os reconhecimentos possíveis no Brasil e também fora pelo trabalho que temos feito nesses 11 anos. Fico muito feliz, isso é reconhecimento e acho fundamental. Porém, o que me aquece o coração é, diariamente, as dezenas de mensagens que recebemos com relatos sobre como ajudamos as vidas de mulheres, que uma mulher conseguiu seguir em frente com uma ideia de negócio, ou arrumar um emprego, gerar renda e melhorar a situação da família. Acreditamos que se quisermos mudar a sociedade, temos de investir nas mulheres", disse ela
Claudia, que é conselheira federal pelo Amazonas, abordou sua história de vida pessoal, na construção de uma carreira no direito, para falar sobre o tema. "Acho que o empreendedorismo está em nós mulheres porque independentemente da profissão, toda mulher empreende de alguma forma. Todas temos um propósito mesmo quando não nos damos conta disso. Acabamos, de uma maneira orgânica, construindo as coisas. As pessoas então perguntam como foi que fizemos e nós mesmas não sabemos, fomos apenas fazendo. Acredito também que temos de ser ponte para outras mulheres, dar luz para outras mulheres. Devemos nos apoiar muito mais do que nos apoiamos", afirmou a conselheira.
A carreira da Advogada
O segundo ciclo de palestras da primeira noite do evento online “Desafios da Advogada ontem e hoje” discutiu o tema “A carreira da Advogada”, com moderação da vice-presidente da OAB-PA, Cristina Lourenço, e exposições da conselheira federal Fernanda Marinela (AL), que é conselheira do Conselho Nacional do Ministério Público, e da advogada criminalista Patrícia Vanzolini.
Fernanda falou sobre avanços conquistados pelas mulheres advogadas no mercado de trabalho, na presença nos órgãos públicos, na política e nos espaços de poder. Ela também agradeceu o legado deixado pelas mulheres que no passado lutaram por direitos hoje consolidados. "Sempre digo que nós mulheres temos muitos direitos tratados em nosso ordenamento jurídico, mas de fato, muitos desses direitos ainda não saíram do papel. Creio que essa é a responsabilidade das mulheres desse século. Esse é o papel de cada uma de nós, que temos direito a voz, que temos espaços para conscientizar e chamar a responsabilidade dos atores determinados. Portanto, é nossa responsabilidade participar dessa mudança social", defendeu ela.
Patrícia tratou da questão do sucesso como conceito amplo, desde a montagem de um grande escritório, êxito financeiro até a atuação em grandes casos. Segundo ela, a barreira para a mulher começa dentre de casa. "Uma barreira inicial para a mulher se desenvolver profissionalmente está nessa injusta distribuição de tarefas dentro de casa, das tarefas domésticas. Para mim, foi duro perceber que eu não precisava me sentir culpada por permanecer no meu escritório enquanto meu marido cuidava de minha filha. O homem dificilmente se sente culpado numa situação semelhante. Isso é muito duro e exaustivo. Uma mulher que tem filhos, faz doutorado, sendo advogada, sendo professora, é extenuante", disse.