OAB promove debate sobre promoção da igualdade no âmbito da segurança pública
A OAB Nacional, por intermédio da sua Comissão Nacional de
Promoção da Igualdade, realizou, na manhã desta sexta-feira (26), a solenidade
de abertura e os painéis iniciais do Seminário Nacional da Promoção da
Igualdade e Segurança Pública do Conselho Federal da OAB.
O presidente nacional da OAB, Felipe Santa Cruz, destacou
que no atual e conturbado período, o tema da igualdade ganha centralidade na
OAB e, de modo geral, no Brasil. “Se a sociedade clama por maior segurança,
temos que compreender que este processo só avançará quando considerarmos os que
estão sob a tutela do Estado enquanto sujeitos de direitos, assegurando a
igualdade em toda sua extensão. É preciso entender o encarceramento em massa
como um problema que atinge a todos e todas. No árduo caminho por justiça,
igualdade e uma segurança pública capaz de proteger a vida humana, não serão
poucos ou singelos os desafios. Mas tenham a certeza de que irão encontrar na
advocacia interlocutores igualmente comprometidos com a efetivação dos direitos”,
disse Santa Cruz em seu discurso de abertura.
A presidente da Comissão Nacional de Promoção da Igualdade
da OAB e coordenadora do evento, Silvia Cerqueira, destacou que há uma
necessidade manifesta de debater – no seio da advocacia – a consolidação da
democracia através do respeito inequívoco a todas as raças, cores, etnias,
origens e matizes. “Muito mais do que apontar os erros, nosso debate visa
contribuir para a consecução de soluções factíveis. Devemos, como Ordem, estar
à disposição para pensarmos e implementarmos políticas de modo a reduzir o alto
índice de letalidade, para construirmos um país melhor para os brasileiros”,
apontou Cerqueira.
Para o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ),
ministro Humberto Martins, não se pode incorrer no erro de achar que todos não
são iguais perante a lei. “Somos homens e mulheres iguais desde a criação.
Somos todas pessoas com os mesmos direitos, os mesmos sentimentos, mas
sobretudo com a mesma missão de alcançar o bem comum. A promoção destes ditames
sobre igualdade é fundamental para o exercício da cidadania, conforme consta do
preâmbulo da Constituição. A desigualdade é fonte de violência nas mais
variadas formas, atuando como fator de vulneração da segurança pública”, disse
o ministro.
Também participaram da solenidade de abertura o
vice-presidente nacional da OAB, Luiz Viana; a conselheira federal Cléa Carpi
da Rocha (RS); o conselheiro federal Carlos Roberto de Siqueira Castro (RJ),
detentor da Medalha Rui Barbosa; os membros honorários vitalícios Cezar Britto
e Ophir Cavalcante; o presidente da Comissão Nacional da Verdade sobre a
Escravidão Negra, Humberto Adami; a presidente do Instituto dos Advogados
Brasileiros (IAB), Rita Cortez; o diretor da Escola Superior da Advocacia
Nacional (ESA), Ronnie Preuss Duarte; o presidente da Associação dos Delegados
de Polícia, Edvanir Paiva; o desembargador do TRF-2, André Fontes; o
secretário-adjunto da Secretaria Nacional de Promoção da Igualdade Racial do
Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, Ezequiel Roque; a procuradora
do Trabalho, Silvana da Silva; o presidente da Associação Nacional dos
Delegados de Polícia Judiciária, Rafael Sampaio.
A primeira mesa tratou sobre Abordagem Policial,
Racialização das Ações Policiais e Filtragem Racial na Seleção, com base na
Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 635 de 2020, que visa
a suspensão de operações policiais em comunidades do Rio de Janeiro durante a
pandemia do novo coronavírus, salvo em casos absolutamente excepcionais.
O debatedor foi o presidente da Comissão Nacional da Verdade
sobre a Escravidão Negra, Humberto Adami, que falou sobre sua preocupação com a
cultura do cancelamento. “Estão cancelando histórias, trajetórias, classes. A
própria advocacia tem sofrido com isso. Essa semana, hackers invadiram uma
transmissão de uma comissão da subseção da OAB de Campos para denegrir a honra
dos debatedores. O neocolonialismo continua em plena atividade na nossa
sociedade, não nos enganemos”, alertou Adami.
Também participaram do debate a procuradora federal dos
Direitos dos Cidadãos, Debora Duprat; a presidente da Comissão Nacional de
Promoção da Igualdade, Silvia Cerqueira; e a vice-presidente da Comissão da
Igualdade da OAB-AP, Maria Jozineide Leite de Araújo.
Já a segunda mesa, que fechou as atividades da manhã, teve
como tema Poder Judiciário e a Implantação das Varas de Combate a Crimes
Raciais. A palestrante foi a conselheira do Conselho Nacional de Justiça (CNJ),
Flávia Pessoa, enquanto os debates ficaram a cargo da secretária municipal de
Justiça de São Paulo, Eunice Prudente; da desembargadora e diretora de
Igualdade Racial da OAB-RJ, Ivone Ferreira Caetano; e da presidente da Comissão
de Promoção da Igualdade Racial da OAB-GO, Maura Campos Domiciana.
Tarde
Ao longo da tarde, foram realizadas outras três mesas de
debate. A Mesa 3 teve como tema "Delegacias de combate a crimes Raciais:
uma política de segurança", com palestra da delegada Andrea Mattos e
debate com o desembargador Lidivaldo Britto (TJ-BA) e a delegada Márcia Noeli.
Essa mesa teve como relatora Lucinara Manenti, que é membra da Comissão
Nacional de Promoção da Igualdade.
A mesa 4 debateu "Advocacia e a aplicação dos tratados
e convenções nas côrtes internacionais no combate ao racismo", com
palestra do coordenador do curso de graduação em Direito da Universidade
Presbiteriana Mackenzie, Leopoldo Soares, e debate com o presidente da Comissão
de Igualdade Racial da ABRACRIM-ES, Marcos Vinícius Sá, a conselheira federal
da OAB, Adélia Pessoa, a juíza do trabalho aposentada do TRT2, Mylene Pereira
Ramos Seidl. Essa mesa teve como relatora a vice-presidente da Comissão de
Igualdade Racial da subseção de São Gonçalo (RJ), Beatriz Silveira.
"Sistema prisional e a invisibilidade das mulheres
negras: foi o tema da Mesa 5, que teve como palestrante a secretária-geral
adjunta da OAB-RS, Letícia Padilha. A professora da UFF, Jacqueline Muniz, e a
presidente da Comissão Nacional da Mulher Advogada, Daniela Borges, foram as
debatedoras. A Mesa 5 teve como relator o presidente da Comissão de Promoção da
Igualdade Racial da OAB-PA, Peter Paulo Martins Valente, e para a apresentação
do case a presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB-RS, Karla Meura.
A Mesa 6 discutiu o tema "Corpos negros e segurança
pública na perspectiva do estado brasileiro - necropolítica" e teve a
palestra do presidente da Comissão de Igualdade Racial de Pelotas-RS, Fábio
Gonçalves. Debateram o tema o historiador Júlio César Condaque Soares, e a
presidente da Comissão de Promoção da Igualdade Racial da OAB-PE, Manoela Alves
dos Santos. A relatoria dessa mesa foi da presidente da Comissão de Promoção da
Igualdade Racial da OAB-PR, Andreia Vitor, e a apresentação do case pela
presidente da Comissão da Mulher Advogada da OAB-PR, Mariana Lopes.
Relatório final
Ao final do evento foi feito um relatório com sugestões de
encaminhamento. Entre as ações debatidas pelos participantes estão combater a
cultura do racismo estrutural, a criação de delegacias especializadas no
atendimento de questões raciais, a instalação das Varas Criminais para combater
os crimes raciais, a recomendação para as escolas de direito ampliarem
conhecimentos nos Direitos Humanos, o tratamento digno para as mulheres
encarceradas, entre outros.
“Nosso agradecimento a diretoria da OAB pelo acolhimento a
refletir acerca de um tema espinhoso, mas que necessita ser enfrentado, com
vistas a construir a transformação de uma sociedade machista, racista e
carregada de práticas letais contra o segmento que é o negro”, conclui o
documento.
Confira a íntegra do relatório