Painel 6 – A participação da mulher na advocacia e na política inspiram debate
São Paulo - O primeiro dia da XXIII Conferência Nacional da Advocacia Brasileira, nesta segunda-feira (27), contou com Painel 6: A Mulher Advogada e Igualdade de Gênero. A abertura foi realizada pela presidente da mesa, Eduarda Mourão, que afirmou que o painel é um marco histórico, por ser a segunda vez que as mulheres advogadas têm maior espaço na Conferência.
“Tenho consciência que este é um caminho longo e precisamos nos mover e unir para conquistar mais espaço”, declarou a presidente. A mesa também contou com Helena Damonica, como relatora, e Florany Mota, como secretária.
A primeira palestra foi de Margarete Coelho, vice-governadora do estado do Piauí, também citada como uma das conselheiras federais com papel decisivo no sistema de cotas da entidade. Ela iniciou mencionando a pouca participação da mulher brasileira na política.
“Sem mulheres no poder, não podemos falar de política participativa. É necessário descontruir códigos culturais que delimitam lugares para mulheres e homens”, afirmou. Além disso, convocou as mulheres advogadas a lutar. “Não pedimos benefício exclusivo para nós. O que buscamos não é nada além do que queremos para todas as mulheres do Brasil”, declarou Margarete. Ao final da fala, a presidente da Comissão da Mulher Advogada do Estado de São Paulo, Kátia Boulos, foi convidada a compor a mesa.
O próximo tema abordado foi o feminicídio, tratado pela advogada e procuradora de Justiça aposentada do Ministério Público de São Paulo Luíza Nagib Eluf. Ela lembrou que o crime só entrou no Código Penal em 2015, como circunstância qualificadora de homicídio. Além disso, a lei considera que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve violência doméstica e familiar, além do menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
“O autor do crime, se julgando melhor que a mulher, a mata só por ser mulher. Há uma grande quantidade de mulheres que morrem por ciúme do marido, porque eles acham que são donos delas. Por isso, o Brasil precisa urgentemente da figura feminina”, alegou Luíza.
Antes do início da palestra seguinte, a primeira mulher a receber a Medalha Rui Barbosa, a conselheira federal Cléa Carpi, e o presidente do Conselho Federal da OAB, Claudio Lamachia, foram convidados a participar da mesa.
Lamachia declarou alegria e orgulho por ocupar o cargo de presidente. Além disso, citou a campanha Mais Mulheres na OAB e prestou homenagem a Cléa. “Esta é a maior homenagem da OAB pelos relevantíssimos préstimos à Ordem e à sociedade. Reconhecimento e homenagem que todos fazemos às mulheres na OAB. Reconhecimento ao talento. Com a cota para as mulheres, sem dúvida nenhuma, nas próximas eleições teremos mais mulheres nos nossos cargos eletivos. Precisamos da sensibilidade das mulheres na política”, afirmou.
Após a fala de Claudio Lamchia, Alice Bianchini, membro consultora da Comissão Nacional da Mulher Advogada, iniciou a palestra sobre Liberdade de Imprensa, Misoginia e os Direitos das Mulheres. “Estou animada, pois estamos observando ventos favoráveis para equidade entre homens e mulheres. Nós fazemos parte disto como agentes de mudança”, afirmou.
Durante a explanação, abordou informações sobre o prejuízo que a mídia traz para a mulher, estudos sobre feminismo e igualdade de gênero pelo mundo, campanhas realizadas nacional e internacionalmente, e apresentou conclusões do que podemos fazer para mudar nossa realidade. Entre elas, aprofundar e compartilhar conhecimento, se conscientizar e agir. “Seja você mesmo a mudança que você quer ver no mundo”, concluiu.
Em seguida, a promotora de Justiça, Silvia Chakian de Toledo Santos, falou sobre a saúde da mulher versus a violência obstétrica, e os impactos sobre os direitos reprodutivos e sexuais no Brasil. Ela explicou que, ao se falar de violência contra a mulher, é preciso tratar diversas características, entre elas lesão à saúde corporal e psíquica, além de direito reprodutivo e violência obstétrica. “Não importa nossas conquistas de direito, não somos ainda hoje, em pleno século 21, verdadeiramente livres, emancipadas”. Falou também sobre a Lei Maria da Penha, segundo ela, um marco fundamental no direito das mulheres. Abordou assuntos como violência sexual e concluiu com questões relacionadas ao aborto.
Marina Marçal, membro da Comissão OAB Mulher do RJ, foi a próxima palestrante, ao tratar sobre Discriminações de Raça e Gênero no Mercado de Trabalho Brasileiro. Sua fala foi construída a partir de experiências pessoais, por ser advogada jovem, mulher e negra. “Existe a noção de que todos são iguais perante a lei, porém isso não se aplicaa mulheres, principalmente mulheres negras”, declarou.
Também compartilhou situações vividas ao longo de sua graduação e vida profissional. Falou sobre a criação do GT Mulheres Negras, afirmando que essas são as maiores vítimas do sistema patriarcal. “Não somos poucas, somos apenas invisibilizadas”, declarou. Encerrou a apresentação com um documentário feito por advogadas negras compartilhando experiências.
A última fala do dia foi de Antonio Oneildo Ferreira, diretor tesoureiro do Conselho Federal da OAB, considerado o padrinho da Comissão da Mulher Advogada. Na palestra sobre a Democracia no Sistema OAB e Igualdade de Gênero, ele deu início contextualizando o conceito de democracia e falou também sobre a importância da reestruturação do sistema.
A ganhadora da Medalha Rui Barbosa, Cléa Carpi, foi convidada a falar e na oportunidade agradeceu o privilégio de estar com advogadas brasileiras – maioria presente no painel. Além disso, incentivou todas as mulheres a participarem do processo eleitoral que ocorrerá no próximo ano. Encerrou com um brado: “Viva a mulher advogada!”, seguido de efusivos aplausos da plateia. Ao final do painel, todas as propostas sugeridas foram votadas e aprovadas.