Pandemia deve agravar desigualdade e desemprego, diz professor em palestra da OAB
O professor Fernando Curi Peres, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (ESALQ/USP), alertou que a pandemia do coronavírus deverá resultar num cenário de agravamento do desemprego e da desigualdade socioeconômica. Sua fala foi realizada na Palestra Virtual "Primeiras Reflexões sobre o Pós-Covid nas Atividades do Agro", promovida na tarde desta segunda-feira (25) pela OAB Nacional, por meio da Comissão Especial de Direito Agrário e do Agronegócio.
"Há bons indícios de que os mercados precisarão de um número cada vez menor de trabalhadores nas produções, especialmente de bens, e também de alguns serviços. E também uma demanda grande por pessoas altamente capacitadas. A exigência de capacitação é muito grande", disse Peres, apontando a deficiência do Brasil em termos de capital humano.
"Temos ainda um problema mais sério, mais de 11% de desemprego. A pandemia está aumentando terrivelmente a velocidade desses eventos de demanda de especialização e menor necessidade de mão de obra. Na agricultura a perspectiva é enorme em relação, por exemplo, às máquinas que não necessitarão de um operador. Então, tudo isso deverá aumentar o problema do desemprego e acima de tudo da desigualdade no país", disse o professor.
Peres afirmou ainda que o crescimento dos gastos para o enfrentamento da pandemia resultará no crescimento da dívida interna para números que estimou em torno de 95% do Produto Interno Bruto. Segundo ele, esse quadro acentuará dois grandes gargalos da economia brasileira: o custo da produção nacional associado à infraestrutura precária do país (Custo Brasil) e os problemas relacionados à baixa escolarização do trabalhador brasileiro. Ele lembrou que enquanto alunos de escolas particulares conseguem ter aulas a distância, o estudante de escola pública não tem tido sequência no ano letivo.
Peres analisou também algumas perspectivas para o agronegócio. "Nas cadeias integradas com o mercado internacional os resultados são menos difíceis para nós. As cadeias integradas estão razoavelmente melhores. As não integradas estão realmente com perspectivas muito sérias. Por exemplo, as cadeias de soja, carne, café e algodão estão passando razoavelmente bem", declarou.
O professor mencionou em contrapartida a cadeia do produtiva do milho, afetada com a baixa no preço do petróleo, uma vez que parte significativa da produção do cereal é usada nos Estados Unidos para o setor energético e perderá espaço. Peres citou ainda as cadeias hortifruti, de flores e leiteira como setores que sofrem bastante com a pandemia.
Participaram da Live o presidente da comissão, Antonio Augusto de Souza Coelho, o vice, Marcus Vinicius de Carvalho Rezende Reis, e o advogado Frederico Price Grechi, que é membro da comissão.