Santa Cruz recebe o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso no Papo em Ordem
O presidente nacional da OAB, Felipe Santa Cruz, realizou,
nesta quinta-feira (24), mais uma edição do “Papo em Ordem”, para tratar de
temas relevantes para a advocacia e para o país com personalidades do
Judiciário e da sociedade brasileira. O convidado foi o ex-presidente da
República Fernando Henrique Cardoso, que falou sobre democracia, os graves
impactos da pandemia de covid-19 no Brasil, desigualdade social, retomada do
desenvolvimento econômico entre outros temas. Fernando Henrique completou 90
anos recentemente e lançou o livro “Um Intelectual na Política: Memórias”.
Felipe Santa Cruz destacou a importância de Fernando
Henrique Cardoso para a história do país e o papel fundamental exercido pelo
ex-presidente no período da redemocratização, com a participação na Assembleia
Nacional Constituinte, depois a atuação como Ministro da Fazenda e a eleição
como Presidente da República. “Temos aqui hoje a presença de um dos maiores
intelectuais da história do nosso país, uma referência das lutas democráticas e
uma liderança das melhores e mais tradicionais lutas do povo brasileiro”,
destacou Santa Cruz.
Fernando Henrique Cardoso começou a entrevista falando sobre
a luta do povo brasileiro para garantir um país livre e democrático após o
período da ditadura militar no Brasil. “As pessoas não podem esquecer, mas
acabam esquecendo as vezes. Eu não sofri fisicamente nada, mas perdi a minha
cátedra, vivi exiliado no Chile, vi muita gente lá que tinha sido perseguida
também. A democracia, vou lembrar Otávio Mangabeira, é uma plantinha tenra, tem
que ser regada todos os dias, e é exatamente essa a nossa situação”, afirmou.
O ex-presidente do Brasil também falou sobre a importância
da advocacia para a manutenção do Estado Democrático de Direito diante de
ataques a instituições. “Temos que estar o tempo todo olhando com atenção e
tendo a coragem de denunciar os deslizes. E nessa hora a advocacia e a OAB têm
um papel importante, porque alertam, chamam a atenção. Líderes políticos também
não podem se acomodar com essa situação. As instituições livres existem porque
nós amamos as liberdades na prática, não só teoricamente”, defendeu.
Fernando Henrique Cardoso tratou ainda do momento político e
da falta de diálogo que atrapalha o debate de ideias e de propostas para o
país. Ele falou sobre o recente encontro que teve com o também ex-presidente
Lula e se mostrou preocupado com os ataques à democracia. “A despeito das diferenças
que nós temos, uma coisa precisamos preservar, que é a liberdade e a
democracia. Essa foi a mensagem principal do nosso encontro. É muito importante
o diálogo. A política é a capacidade que você tem de persuadir o outro. Tem que
ter civilidade, estamos no limite de quebrar as regras do jogo”, disse.
Um dos responsáveis pelo Plano Real, Fernando Henrique
Cardoso falou ainda sobre as dificuldades que o país enfrenta na economia e as
ações que podem ser adotadas para melhorar o cenário econômico. “Temos a
sensação de que falta um caminho para o Brasil. A função de quem lidera é abrir
os olhos dos demais e mostrar o caminho, o rumo. Estamos em um momento de
indecisão no Brasil e isso é pago pelo povo. Não existe descontrole do gasto
público, mas sim um descontrole do resultado da atuação pública. Falta
confiança para o Brasil. É preciso redobrar o esforço para recriar um caminho
que a maioria esteja de acordo”, avaliou.
Fernando Henrique Cardoso fez questão ainda de frisar que o
principal problema do país e a desigualdade, e que precisa ser combatida. “O
problema central nosso político é a desigualdade. A nossa desigualdade é
gritante. Eu morei nos Estados Unidos, conheço a Europa e lá também existem
esses problemas. Lá fora existe pobreza, mas existe expectativa que você pode
fazer alguma coisa e os governos dispõe de estrutura para atender a população
mais carente”, frisou.
Sobre a pandemia, o ex-presidente criticou a atuação do governo federal e deixou claro que é fundamental ouvir a ciência e seguir as orientações dos médicos e da Organização Mundial da Saúde. “Primeiro ponto é que temos que frisar que é uma pandemia, não foi inventado por ninguém, sem teorias da conspiração. Temos que dizer isso e não podemos ficar fingindo que não é nada, tapar o sol com a peneira. Eu acho muito preocupante declarações de menoscabo por parte de quem tem autoridade. Eu não sei qual o melhor tratamento, quem sabe são os médicos e a OMS, tem que falar com essa gente o tempo todo e dar ao povo o sentimento de que está preocupado, tentando agir da melhor forma”, disse.