Presidente da OAB conversa com Dilma Rousseff no Papo em Ordem
O presidente nacional da OAB, Felipe Santa Cruz, realizou, nesta quarta-feira (28), mais uma edição do “Papo em Ordem”. O programa aborda temas relevantes para a advocacia e para o país com personalidades do Judiciário e da sociedade brasileira. A convidada desta edição foi a ex-presidente da República Dilma Rousseff. Ela falou sobre a necessidade de resgate da democracia e propôs a uma Lei de defesa do Estado Democrático de Direito em lugar da Lei de Segurança Nacional, que vem sendo usada pelo atual governo, de maneira inédita no período democrático, para constranger o trabalho de jornalistas. “A democracia é o lado certo da história”, resumiu a convidada.
“Esse espaço é uma oportunidade para uma conversa franca e democrática e que busca dialogar com os grandes personagens da vida política e jurídica brasileira, principalmente nesse momento de ataques à democracia”, disse Santa Cruz. O presidente da OAB já conversou no Papo em Ordem com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, com a ministra do STF, Cármen Lúcia, com o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso e com a empresária Luiza Trajano, entre outros convidados.
Dilma agradeceu ao convite e lembrou a trajetória de luta da OAB em defesa da democracia. “Sou de uma época em que a OAB era, e continua a ser com você (Felipe Santa Cruz), um sustentáculo para a democracia no Brasil, em termos de organizações não-governamentais. Assisti a esse processo de construção da entidade e sei o papel que a OAB desempenhou no processo de redemocratização e como essa instituição foi importante para que o Brasil conquistasse a democracia. Por isso, tenho o maior prazer que estar aqui conversando com o presidente da OAB. Tenho também uma outra honra, tenho um grande apreço pelo seu pai. Ele foi um dos resistentes a ditadura”, disse ela em referência a Fernando Santa Cruz, pai do presidente da OAB Nacional, que foi preso e assassinado por agentes da ditadura militar em 1974.
A ex-presidente falou sobre a questão da misoginia que atinge mulheres em posições de comando. Segundo ela, é fundamental que as mulheres façam política como forma de lutar contra a misoginia. Ela elogiou a adoção pela OAB da política de paridade de gênero na escolha dos dirigentes da entidade e apontou o gesto como uma contribuição para a luta das mulheres.
“Sempre que a mulher sai do mundo doméstico e vai para a vida pública, tanto político quanto em qualquer outro nível de atuação social, ela é objeto de misoginia. A misoginia é uma arma contra as mulheres que assumem cargos de poder. O poder desencadeia a misoginia”, afirmou ela. “Há no Brasil, como há em toda a parte do mundo, e a base disso é o paternalismo, toda uma visão preconceituosa contra a mulher. Comigo foi usada toda a sintaxe antimulher, antifeminista e misógina”, declarou Dilma.
Questionada por Santa Cruz, Dilma falou sobre o processo de transição do regime ditatorial, imposto pelos militares, para a democracia. “Não tivemos a chamada justiça de transição. Não há país no mundo que tenha passado por uma transição de uma ditadura para a democracia que não tenha dado o nome aos bois. Ou seja, atribuído pesos e medidas diferentes para aqueles que participavam do processo. Não é possível comparar a violência, o terrorismo, do Estado com a violência de qualquer grupo político. Não é comparável em termos de poder”, ponderou Dilma.
A ex-presidente abordou ainda o trabalho realizado pela Comissão Nacional da Verdade, que procurou investigar violação dos direitos humanos praticados no Brasil entre 1946 e 1988, em especial durante a ditadura militar (1964-1985). “A memória não é importante para ficar em busca de represarias ou vingança. A memória é para saber que houve um processo no Brasil em que o Estado brasileiro assumiu que podia matar brasileiros. Ao fazer isso, ele corrompeu a Justiça. Se você não deixar isso claro, você legará ao futuro uma parte deste comprometimento à Justiça”, disse Dilma.